OLHOS URBANOS

Poema de Aroldo Pereira, escrito no final da década de 1980.



montes claros, devo espremer

o teu cérebro,

tomar 01 sorvete de limão

e sair vitorioso pela av. cel. prates?

ando cheio de teu ar esnobe.

você resseca meu coração

e suga minhas ideias.

montes claros, não quero casar

com uma de suas latifundiárias,

virar produtor agropecuário,

entrar para a udr e viver encharcado

de ideias conservadoras.

por favor, deixe-me em paz!

sou 01 poeta errante, 01 sonhador anarquista

q. não acredita em suas falsas promessas de amor eterno e paz espiritual.



me deixe com meu tédio

e minha solidão.

não venha entortar a minha

cabeça.



já sofri demais por sua causa.

você  está entorpecida, montes claros.

você e suas grandes festas inúteis.

por que não pensa nessa gente

q. te ama tanto?

pra que tanto mendigo,

todas essas crianças perdidas,

tanto indigente?

você anda drogada e sem visão,

princesa decadente.

perdeu o amor, a criatividade,

e não sabe o q. fazer para ajudar

o seu povo.



por que não se posiciona?

faça uma reforma urbana.

divida seu coração, montes claros.

ajude esse povo triste e esperançoso

q. tem tanto amor por você

seus atores sem teatro, sua marujada sem prestígio,

seus operários sem fábricas.

montes claros, seus filhos choram

sua falta de interesse.

eles sangram sobre a ponte preta.

por que o trem-de-ferro vai parar?

Por que os hospitais estão

fechando?



por que a faculdade vai cair,

princesa decadente?

você e seus olhos de neon

 não respondem nada.

 seu coração está deteriorado,

 chagásico...

e você já não se preocupa

 com seus rios q. secam,

 com suas montanhas

q. diuturnamente viram pó.

montes claros, desliga a

televisão”.

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